Quando nos deparamos
com a palavra “Povo Brasileiro” somos levados a refletir sobre a palavra
identidade. Com efeito, perceba que identidade nacional aqui tem o sentido de recorrer
ao discurso de origem cultural essa que será pautada por idéias e princípios
valorativos, sobre sua história, sobre o seu fazer/ produzir. Então, como
pensar ser “Povo Brasileiro” em meio a discursos colonizadores, eurocêntricos
que pautam e dizem que somos subdesenvolvidos, selvagens, frutos de
miscigenação racial. Será que ser Povo Brasileiro é entrar numa moldura a cerca
do que é ser Brasileiro?
Os
debates sobre o povo brasileiro remontam ao século XIX oriundos de concepções
de supervalorização de uma cultura sobre a outra (etnocentrismo) e eurocêntricas,
influencia da Europa sobre outros povos de forma política, econômica e social. Essas
visões de mundos emolduraram o que seria ser “Povo” Brasileiro. No mesmo século
XIX o Brasil começava a vivenciar sua “independência” perante a metrópole
portuguesa, então perguntas oriundas do contexto histórico da época foram
postas pela classe dominante: “Como lidar com o desenvolvimento local”, visto
que, o Brasil agora independente precisava lidar com o ônus e o bônus de ser
Estado Nação.
Querendo resolver os
problemas do desenvolvimento social pós independência, a classe dominante local
usou então idéias eugênicas. A
partir do discurso eugênico, a classe dominante do Brasil vai recorrer a
estratégias para lidar com aquilo que eles consideravam como problema social, a questão da
miscigenação no Brasil. A classe dominante usará a ideia do embranquecimento racial,
do evolucionismo social, querendo comprovar que o problema do não desenvolvimento
social Brasileiro estava na miscigenação do povo.
As concepções etnocêntricas,
eurocêntricas, evolucionistas sociais, idéias de embraquecimento racial no
século XIX até nossos tempos atuais influenciaram e influenciam nosso modo de
visualizarmos, de pensarmos nossa cultura, de pensarmos sobre nossa identidade
nacional. Pois recorrermos sempre à lente do outro, desse que se diz
civilizado. O nosso olhar, ou nossa lente estar pautada em hábitos sociais
emoldurados, embasados no modo europeu de ser.
Contudo, atinar para o
que é ser Brasileiro requer de nós mesmos, a compreensão que somos feitos
por um amalgama de cultural, de contato entre modo de vidas diferentes,
de cosmogonias diferentes, de visão de mundo diferentes, de grupos étnicos de
dominantes e dominados, portugueses, índios, negros, sociedades que originaram
o que seria o Brasil, um caldeirão
culturais, um continente de diversidade social, em que o fazer produzir
remete a uma pluralidade de ser. Com efeito, ser Brasileiro é atinar para a
realidade como diria Gilberto Freire da Casa Grande e Senzala, relação entre
brancos e negros que originou espaço de confluência genotípica e fenotípica
entre grupos étnicos tão diferentes, mas que repercutiu no modo de agir de
pensar, no falar daquilo que poderíamos intitular o que é Povo brasileiro.
Seja nas ciências sociais, ou na literatura,
temos uma miríade de pontos de vistas sobre a formação do conceito do que é o
Povo brasileiro. Mas todos são unânimes que somos frutos de luta, de grupos
minoritários, esses que perderam suas terras, sua língua, dizimados pelas
ideologias salvacionistas dos ditos civilizados, colonizadores.
Mas é importante
salientar que o colonizador (Português) no Brasil se mesclou, nessa nova nação,
contribuindo com seus genes, com seus valores, crenças, regras, mas ao mesmo
tempo colaborou para o discurso de superioridade racial, para as construções de
cortiços, favelas, de periferias, tudo reflexo do querer tratar o progresso
urbano por meio da concepção superior da classe dominante com seu discurso
eurocêntrico.
Assim ser Brasileiro de
um lado é perceber-se sendo esse “povo” como um caldeirão de culturas, de
valores e crenças, mas por outro é um caldeirão continental dividido por
concepções colonizadoras, que se fazem presentes nos nossos discursos de
progresso, de desenvolvimento, nos discursos democráticos, mas que reproduzem
relação de produção desigual, de violência contra negro, contra índio, contra
esses que somos nós.