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REFLEXÃO: ENSINAR CIÊNCIAS NO ATUAL CONTEXTO (Danilo Almeida Souza )








REFLEXÃO: ENSINAR CIÊNCIAS NO ATUAL CONTEXTO
Danilo Almeida Souza

Não são atuais as discussões sobre o que deve estar presentes nos currículos de ciências, ou como estas disciplinas deveriam ser apresentadas para os estudantes nos espaços escolares. É possível perceber movimentos nesse sentido, através da abordagem Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), da Pedagogia Histórico-Crítica, ou mesmo da incorporação da história e filosofia no ensino de ciências.
Na contra-mão a toda essa dinâmica,
ações efetivas que incorpore essas mudanças ainda são casos isolados; grande parte da rotina escolar ainda reproduz um modelo tradicional, quase sempre baseado na resolução de problemas e memorização de fórmulas e conceitos.
Especificamente na física, disciplina a qual ministro aula na educação básica, é possível perceber diversos canais que possibilitam um ensino mais dialogado atento as necessidades dos nossos estudantes. Temas como geração de energia elétrica em larga escala, poluição e meio ambiente, gênero, relações ético-raciais e o desenvolvimento da física ao longo dos anos podem potencializar esses debates.
Da minha experiência como docente confesso que há muito “tradicionalismo” nas minhas aulas; uma parcela se deve ao fato de que meu encantamento pela física se deu exatamente pela beleza de como a natureza poderia ser descrita por modelos matemáticos, que embora não reproduzissem condições reais, eram capazes de descrever uma variedade de situações concretas, ou oferecer uma compreensão sobre estas. Noutra ponta, a formação de professores, embora hoje já tenha incorporado muitas idéias que batem de frente ao modelo tradicional, há uma década, essas discussões eram cada vez mais raras (pelo menos em minha universidade de formação) e quando tratadas os temas ainda beiravam muito pela linha conservadora.
É interessante perceber que o “ser professor”, é estar em constante formação e a minha caminhada na universidade e fora dela me proporcionou um olhar mais atento a algumas questões que antes não via. Mesmo acreditando ser importante a apropriação de conceitos físicos, a análise lógico-matemática presente nos modelos, a definição e princípios de teorias científicas, é também urgente perceber como a física desempenha seu papel na formação do cidadão como integrante de um meio social e como esse aprendizado pode inferir em uma mudança de realidade.
Ver, que o desenvolvimento da ciência ao longo dos séculos certamente teve fortes influências políticas da época, que divulgar e popularizar a ciência e tecnologia é uma ação necessária, urgente e atual, que a definição do currículo escolar também é relação de poder, que a ausência de mulheres, negros e outras classes marginalizadas como protagonistas de descobertas científicas é reflexo de uma sociedade por muito tempo machista e racista foram alguns dos aprendizados que foi sendo incorporado a minha formação.
Ensinar ciências no atual contexto é prover os alunos de um conhecimento hegemônico, baseado em leis, teorias e conceitos, pois esses sem dúvidas são necessários para acessar lugares dentro da carreira de ciências e formação dentro das universidades, mas é também refletir sobre o papel da ciência no desenvolvimento da sociedade e como historicamente este conhecimento foi também usado como privilégio de apenas alguns.
Poucas destas questões serão encontradas em minhas aulas como temas centrais, até porque ainda me pego a refletir como incorporá-las de forma efetiva no ensino, mas abrir os olhos para essa necessidade, estar disposto a ouvir, e reconhecer a urgência em se formar sobre esses assuntos, deve ser o primeiro passo para uma mudança de direção de modo a termos uma educação mais humanizada e não perpetuadora de uma linha que por muito tempo perdurou, onde a física seria para poucos, para homens, para brancos e para loucos.


Nota: Quando nos referimos a ciências no decorrer do texto, estamos nos remetendo a ciências naturais, englobando as áreas de física, química e biologia.

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