Wagner do Amparo Santana
O
livro Tereza Batista Cansada de Guerra do escritor Jorge Amado, natural de
Ferradas, distrito da cidade de Ilhéus, é um romance que trata sobre a história
de vida de uma personagem oriunda das proximidades da cidade de Aracaju. Órfã
de pai e de mãe aos oito anos de idade, vendida pela tia Felipa aos doze anos
ao personagem Duarte da Rosa, intitulado capitão Justos. Tereza nasce na zona
rural, descrita como alguém: “que brinca de igual perante aos meninos”(AMADO,1978,p.64)
criança educada pela tia Felipa que aprende a cozinhar, a lidar com o espaço
privado da casa, aprendendo a ler e escrever.
Ao
longo do tempo a personagem vai crescendo e é observada pelo personagem Justo e
seu tio Osvaldo, os quais nutrem o desejo de possuir o corpo da criança. Em
casa “o cabaço” da criança é desejado pelo seu Tio, que planeja matar a sua
esposa para ficar com sua sobrinha, e
ronda o corpo de Tereza, observa-a dormindo, observa suas curvas e seu corpo
tomando formas “de fêmea” (AMADO,1978, p.65).
Tio Osvaldo é um velho que na sua juventude desejou Felipa, sua esposa,
na sua formosura da idade, assim como os outros homens da família que a
possuíram; o seu corpo em tempos áureos
de mocidade, tempos descritos como de formosidade, quando o seu corpo exauria
beleza e desejo por parte dos homens.
O personagem coronel Justiniano a deseja como
mais uma argola no seu colar de cabaços para ostentar o aspecto de virilidade,
de força, masculinidade e de poder sobre aqueles que são considerados meras
coisas, objetos de ostentação de poder. Tereza, vendida aos doze anos ao
coronel, passa por tratamentos bárbaros para se tornar submissa, porém não
aceita a condição e luta até o dia que mata o coronel.
Com efeito, podemos inferir que os temas que
aparecem no romance são representações da vida social do autor, em especial a
que ele teve contato. O autor que participou do processo de formação do povo
grapiúna infere como os homens usavam as terras desbravadas à força, tomadas à
violência, eram usadas como meio de manter o status quo, o prestígio e o controle sobre outros segmentos, em
especial sobre a mulher.
O
romance nos mostra como homens usam de influências financeiras, usam da terra,
usam suas influências politicas locais para obterem benefícios perante a lei, à
justiça e o direito. Mas o autor nos mostra que havia na sociedade indivíduos
ou grupos que resistiram perante os mandos e desmandos de homens que utilizavam
a terra para se prevalecer sobre outros
segmentos sociais.
O
autor usa seu período, sua vivência, como pano de fundo para elucidar que mesmo
antes da década de 1970, contexto social que os movimentos feministas tomam
forma no Brasil, já havia violência sobre a mulher, essa que não era
denunciada, era aceita como naturalizada, como algo comum. Violência que foi
naturalizada na forma de lidar com o corpo da mulher. Havia resistência em
especial das mulheres, mas no fim sempre era o ceder perante a relação de mando
e desmando da sociedade pautada na visão do homem, desse que tinha a terra e o
poder da força.
A
relação então do autor com o mundo ficcional e o mundo real não são díspares,
pois o romance toma forma documental do que de fato acontece na realidade da
vida social dos indivíduos em especial sobre o corpo da mulher e de outros
indivíduos que não entram dentro da moldura social estabelecida pela sociedade
vigente.