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" O DIÁLOGO. É O ELO QUE FALTA "

MANIFESTAÇÕES RACISTAS NAS REDES SOCIAIS: “CREDOOOO! A MISS PIAUÍ TEM CARA DE EMPREGADINHA, CARA COMUM, NÃO TEM PERFIL DE MISS, NÃO ERA PRA TÁ AÍ.





maria Domingas de Mateus de Jesus.
Wagner do Amparo Santana.

O concurso Miss Brasil é realizado todos os anos reunindo mulheres de diversos  Estados brasileiros que representarão o país no Miss Universo, este ano a eleita foi a piauiense Monalisa Alcântara de 18 anos. Após o resultado do concurso Monalisa foi alvo de manifestações racista nas redes sociais: “Credoooo! A Miss Piauí tem cara de empregadinha, cara comum, não tem perfil de miss, não era pra tá aí.” Por que será que uma mulher negra não pode ser aceita como Miss? Afinal existe ou não racismo no Brasil?
          Cento e vinte sete anos após a abolição da escravatura no Brasil é visível às marcas da escravidão no cotidiano de cada negro e negra deste país. Conquistou-se a “liberdade”, no entanto continuamos presos as correntes do preconceito e da descriminação racial.
Nesse sentido, é evidente que a questão racial no Brasil ainda é vista como um tema irrelevante, isto se deve a crença equivocada de que vivemos numa democracia racial (SILVA, 2007), que mascara o racimo. O racismo é um comportamento, uma ação de aversão, por vezes de ódio em relação às pessoas que possuem um pertencimento racial observável tais como: cor de pele, tipo de cabelo e formato dos olhos, etc. Alguns autores afirmam que o racismo se expressa de duas formas integradas: individual e a institucional.  
Na forma individual o racismo manifesta-se por meios de atos discriminatórios cometidos por indivíduos contra outros indivíduos. De acordo com ( SILVA, 2002) o racismo em nossa sociedade é capaz de desestruturar a personalidade do sujeito, deixando-o envergonhado de sua própria imagem, provocando-lhe uma crise de identidade. Tudo isso faz com que os sujeitos possam se tornar inseguros, temerosos, inibidos, revoltados.  A formação histórica do  povo brasileiro permitiu a consolidação de um racismo diferente, mascarado, inteligente, pois, manifesta-se nas brincadeiras, por vezes nos olhares e, com menor intensidade, no trato com as pessoas.
         Já na forma institucional, implica em práticas discriminatórias sistemáticas fomentadas pelo estado ou com seu apoio indireto. Elas se manifestam sob a forma de isolamento dos negros em determinados bairros, escolas e emprego.  O processo de desigualdade racial  e social que vivencia a população negra pode ser compreendido então como: A capacidade que o poder simbólico impõe certa posição social e cultural sobre o negro. O poder simbólico como diria (BOURDIEU, 2007) é invisível e é exercido pela sociedade tendo o individuo com “cúmplice”, pois muitas vezes a sociedade e o indivíduo não querem saber se estão sujeitos ou exercem de forma voluntária o preconceito racial e a discriminação racial. 
O preconceito é a capacidade de se habituar à visão de mundo em que predomina as concepções simbólicas da sociedade vigente. Ou seja, é necessário perguntar-se se os indivíduos brasileiros que se dizem não “preconceituosos” percebem que são preconceituosos no discurso do cotidiano. Caro leitor, quem não já ouviu ou até proferiu no dia – a – dia coisas do tipo: “Só podia ser coisa de Negro” “ Negro é presepeiro” e outras falas que denotam o preconceito de marcar, a atribuição do fenótipo do negro como coisa “ ruim” e do branco como coisa “ boa” .
Segundo Oracy Nogueira o preconceito pode ser de duas origens. De um lado o que usa o genótipo, critério de discriminação da ascendência, ou seja, a gota de sangue, aqui qualquer presença de ancestralidade a pessoa sempre será posta no rol do discriminado. Ao contrário do preconceito de marca, que usa o fenótipo, a fisionomia, aparência racial. Essa aferição varia de individuo para individuo passando pela predileção e preterição. A primeira é a simpatia e o segundo é a ação de omitir, ou omissão. O conceito de preconceito de marcar pode ser usado para percebemos que dentro da nossa estrutura social a pobreza tem cor e por todo lado abundam dados que separam etnias formadoras do caldeirão cultural chamado Brasil.
 A eleição de uma mulher negra como a mais bonita do país reflete positivamente na autoestima de crianças, jovens e adultos da mesma etnia que representam mais de cinquenta por cento da população, para, além disso, abre espaço para a diversidade anula a ideia que o branco é o único padrão de beleza.  Mas se negra  consegue lugar de destaque isso incomoda muito, logo é dito que ela está no lugar errado.  Ainda, a vítima é considerada culpada pela ação discriminatória sofrida. O termo utilizado pela internauta “parece uma empregadinha” para se referir à miss Brasil revela que existe apenas um lugar o a população negra pode ser aceita, em situações subalternas. Por que as pessoas negam a existência do racismo se ele está instalado no cotidiano? Você se considera racista?



Referenciais:

BOURDIE, Pierre. O Poder Simbólico. 11. Ed. Rio de Janeiro. Brertrand Brasil, 2007.311.p
SILVA JÚNIOR, Gerson Alves. Reflexões étnicas sobre o processo formativo a partir de uma perspectiva psicológica. Psicologia: ciência e  profissão, vol. 22, nº 4. Brasília Dec. 2002. Disponível em:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932002000400007 
SILVA, Petronilha Gonçalves da. Aprender, ensinar e relações raciais no Brasil. Educação. Porto Alegre/RS, ano XXX .63 p 489-506 set/dez 2007. Disponível em: https://goo.gl/RnoEjB



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